PF mira desembargadores do TRT-RJ em desdobramento da operação que afastou Witzel
Segundo o MPF, a investigação apura o pagamento de vantagens indevidas a magistrados que, em contrapartida, teriam beneficiado integrantes do esquema criminoso supostamente instalado no governo Witzel.
Por Arthur Guimarães, Diego Haidar, Leslie Leitão, Lívia Torres, Marco Antônio Martins e Matheus Marques, TV Globo, G1 Rio e GloboNews
A Polícia Federal (PF) iniciou nesta terça-feira (2) a Operação Mais Valia, um desdobramento da Operação Tris in Idem, que em agosto de 2020 afastou do cargo o então governador Wilson Witzel (PSC). Desta vez, desembargadores do Tribunal Regional do Trabalho do Rio (TRT-RJ) e empresários são investigados.
O Ministério Público Federal (MPF) apura o pagamento de vantagens indevidas a magistrados que, em contrapartida, teriam beneficiado integrantes do esquema criminoso supostamente instalado no governo Witzel, que no mês passado virou réu por corrupção e lavagem de dinheiro.
Até a última atualização desta reportagem, uma pessoa havia sido presa.
Agentes saíram para cumprir 11 mandados de prisão e 26 de busca e apreensão. Um dos alvos é o desembargador afastado Marcos Pinto da Cruz — não se sabia se de prisão ou busca.
Uma das equipes foi ao TRT, no Centro do Rio. Os demais investigados não tinham sido identificados até a última atualização desta reportagem.
Os mandados foram expedidos pela ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Nancy Andrighi, a pedido da Vice-Presidência da Procuradoria-Geral da República (PGR).
Witzel também responde a um processo de impeachment em um Tribunal Especial Misto. O STJ prorrogou o afastamento dele por um ano ao aceitar a denúncia do MPF e torná-lo réu.
PF cumpre mandado na Lagoa, na Zona Sul do Rio — Foto: Diego Haidar/TV Globo
O ‘núcleo judiciário’ de Witzel
Segundo as investigações da Tris in Idem, o TRT era um dos três núcleos do esquema de corrupção no governo Witzel — composto ainda pela “caixinha da propina” e pelas “sobras de duodécimos”.
Em 1º de setembro do ano passado, três dias depois do afastamento do então governador, o desembargador Marcos Pinto da Cruz, de 58 anos, foi retirado das funções administrativas no TRT.
Para os procuradores, esse núcleo beneficiaria Organizações Sociais (OSs) que tinham valores a receber do estado por serviços prestados em anos anteriores, os chamados “restos a pagar”.
desembargador do Tribunal Regional do Trabalho do Rio Marcos Pinto da Cruz é investigado por suspeita de envolvimento em esquema de corrupção que levou ao afastamento do governador do RJ Wilson Witzel — Foto: Reprodução
As OSs, diz a PGR, também seriam beneficiadas com a aceleração de processos trabalhistas para obtenção da certidão negativa de débitos. Esse documento permite que as OSs voltem a firmar contratos com o poder público.
De acordo com as investigações, para participar do esquema, as OSs teriam que fazer pagamentos disfarçados de honorários advocatícios a escritórios apontados pela irmã do desembargador, a advogada Eduarda Pinto da Cruz.
Essas informações fazem parte da delação premiada do ex-secretário estadual de Saúde Edmar Santos.
Na época, o desembargador não se manifestou.
Os núcleos da propina no governo Witzel — Foto: Editoria de Arte/G1